segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Política – Aprendendo Com o MST


O MST (Movimento Sem Terra) é conhecido por boa parte da classe média, alta e até mesmo entre as classes mais pobres das regiões urbanas brasileira, como um movimento que invade e desrespeita o direito constitucional a propriedade, existe até mesmo qualificações menos nobres como arruaceiros, desocupados, desordeiros entre vários outros adjetivos quando citado o nome e atitudes do movimento. Porem o MST quase que silenciosamente vem mostrando-se desde sua fundação um movimento mais organizado e estrategicamente inteligente em sua atuação e posições políticas do que a sociedade urbana consegue visualizar, sem mencionar a forma racional com que se preocupa com o bem estar e principalmente com a cultura de seus membros, com uma ampla ênfase para educação. Conhecidos apenas por seu radicalismo, os lideres do MST deveriam ser observados com olhos bem mais apurados pela sociedade dos grandes centros urbanos.
O movimento iniciado no inicio dos anos 80 por menos de uma centena de pessoas, conta hoje com mais de 1,5 milhões de integrantes (entre assentados e acampados) com capacidade de organização rápida e simultânea em todo o país. Conseguiu ter reconhecida sua importância como movimento social organizado, não necessita de representantes do parlamento (embora tenha) para ser ouvido pelo executivo, e tem sido o principal responsável pela visibilidade do problema de falta de igualdade social nas regiões rurais brasileira. Deixo claro que não sou de forma alguma a favor de desrespeito ao direito constitucional de propriedade, muito pelo contrario, também não partilho e nem gosto das posições politicas do movimento, porem rendo-me aos fatos. Sem o MST o problema no campo não teria a mínima visibilidade e provavelmente continuaria sendo um drama social sem solução (devido ao descaso das autoridades e sociedade) assim como ocorre hoje nas grandes cidades (principalmente nas periferias) brasileiras com o descaso da sociedade (classe média e alta) e os resultados conseqüentes na forma de violência, desemprego e baixo nível educacional e cultural e conseqüente falta de oportunidade que se abate nas grandes cidades brasileiras e até mesmo no campo com pessoas que resolveram não participar por não concordar com as atitudes e radicalismo do movimento. O MST é fruto do descaso, autoritarismo e falta de respeito e visão de vários governos e da sociedade privilegiada. Não defendo o movimento, mas aprendi a respeita-lo principalmente pela forma inteligente como atua. O MST tem a partir de procedimentos inteligentes o inicio da integração de novos membros com a cultura do movimento e mesmo quando o acampamento é transformado em assentamento o MST continua apoiando seus membros, acaba fazendo de maneira mais eficiente o papel que caberia ao estado e o mais irônico é que o faz cobrando das autoridades (pressionando) direitos que deveriam estar mais do que disponíveis.
Quando é iniciado um acampamento os lideres do MST, tomam algumas atitudes aparentemente simples, considerado padrão em todos eles:
1 – Organizar uma partida de Futebol entre os acampados (novos integrantes do movimento)
2 – Montar no acampamento uma escola, denominada, “Escola Itinerante”, (reconhecida pelo MEC).
Com a partida de futebol, os lideres visam buscar alem do lazer como forma de integração, verificar através das atitudes dos acampados na partida, o padrão de comportamento (perfil psicológico) de cada um (liderança, estabilidade emocional, passividade, etc.) acredita-se que em uma partida de futebol os integrantes mostrem suas personalidades com mais facilidade.
As escolas têm a finalidade de procurar fazer as crianças e adolescentes que acompanhem seus pais nos acampamentos tenham inicio ou continuidade em seu processo de educação, neste momento é introduzido também estudos sobre o campo, voltados à realidade que esta sendo vivida por seus pais e elas (crianças e adolescentes), alem de ensinar as motivação e necessidades a que o movimento esta voltado (reforma agrária) é iniciada a cultura do movimento nas gerações seguintes, procurando formar assim lideres dentro do próprio movimento.
Quando o acampamento é transformado em assentamento, inicia-se uma serie de atitudes realizadas pela liderança do movimento. Para as crianças e adolescentes, passa-se a exigir das autoridades locais, vagas em escolas publicas da região, cobrar qualidade de ensino e buscar ensino sobre problemas no campo para os alunos, caso não exista escolas próximas exige-se a construção imediata de uma. Alem das cobranças, existe todo um acompanhamento para verificar se o resultados obtidos com as exigências esta sendo realizado conforme o combinado. Procuram simultaneamente introduzir as crianças e adolescentes a outras formas de lazer e cultura em parceria com universidades e ONGs (cursos de teatro, musica, artesanato etc.). Seguindo o mesmo padrão é exigido e cobrado das autoridades atitudes para infra-estrutura, financiamentos e acompanhamento técnico para os assentamentos, alem de ensinar formas de atuação em cooperativa, para a comercialização da produção realizada nos assentamentos. Existe muita pressão do movimento sobre as autoridades (consideras por muitos como radicais) sob a alegação de que as autoridades e a burocracia no Brasil somente consegue ser vencida sobre forte pressão (uma grande verdade!). O MST, também procura politizar sua luta, não apoiando políticos, mas sim formando pessoas e políticos dentro de seus quadros, já tem vereadores, prefeitos, deputados federais e estaduais eleitos (membros do movimento), em breve esta mesma cega sociedade pode surpeender-se com o tamanho político que silenciosamente o movimento deve alcançar. Atualmente já existem membros do MST que iniciaram seus estudos nas escolas itinerantes dos acampamentos formados em direito, engenharia agrária, etc. e outros em cursos de mestrado e doutorado formações importantes para futuras necessidades e lideranças do movimento. O MST descobriu a muito o obvio, é pela educação e cultura que se forma uma nova sociedade. Não será surpresa se em 15 ou 20 anos, o MST, ganhe não somente importância como movimento social, mas também como movimento e liderança política e não vai adiantar a sociedade organizada ficar bradando em grandes meios de comunicações sua indignação. O primeiro sinal foi à eleição de Lula apesar de toda indignação da sociedade (classe média e alta), programas sociais com o “Bolsa Família” bastaram para contrariar os argumentos da sociedade dominante. O exemplo esta dado.